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Pedro Wilson

Meu ídolo


"E se as luzes nos roubassem as estrelas

E nosso brilho só nos mostrasse a silhueta do que poderíamos ser.


Eu já estive pior, e agora posso entender.


Para clarear o meu tormento,

como flores nas encostas do cimento "


Lá se foi uma estrela daquelas, imensas, que dão a luz a se seguir o caminho nesse plano. Lá se foi um poeta daqueles que fazem a vida ter um pouco mais de sentido.

Lá se foi um dos maiores artistas da nossa geração. Um dos maiores tradutores da essência da vida em música e poesia.


Lá se foi um companheiro meu.


Construo esse texto com as palavras e arte dele como sub-texto.

Um dos meus maiores ídolos artísticos. Ídolo artístico que dialogava também com ídolo humano. Marcelo Yuka.


Um artista que, caso você não conheça, é necessário correr agora e conhecer, nesse momento. E na questão humana ficaram agora somente os relatos. Os relatos dos trabalhos sociais, os relatos de pontes e conexões por seu intermédio, os relatos, ditos, conhecidos, amor e generosidade em todas as partes.


Meu primeiro contato pessoal com Yuka se deu a mais de 15 anos atrás, na campanha do desarmamento, (que "coincidência" que ele se vá exatamente a seguir que novamente as armas entram em voga e ganham maior liberação). Ele, sem a menor necessidade, foi até a escola em que eu estudava para conversar e explicar para os alunos sobre essa questão política. Assim, já era um grande ídolo, ali, na sua cadeira de rodas, em que foi obrigado a ficar depois de levar 9 tiros, ali, se entregando por horas, para alunos de uma escola, no intuito de ajudar pra uma sociedade melhor, mais humana. Ali.

Pois, "paz sem voz, não é paz, é medo".


Naquele dia, ficamos conversando por todo o tempo após a palestra, até ele se atrasar para seu próximo compromisso. Ele pegou um papel, rasgou, e escreveu seu telefone, da própria casa, pessoal, e disse para eu ligar para ele. Tenho esse papel guardado até hoje. Em um segundo momento também, ele foi dar uma palestra no meio da Puc do Rio de Janeiro, sobre a proibição do funk, e perseguição de movimentos sociais. Lá estava ele, conversando, participando, orientando, por horas, um grupo de pessoas, pela simples convicção generosa de buscar uma sociedade melhor, mais justa, mais generosa.


Nunca omiti, e hoje posso admitir. O Teatro do Mar foi criado muito com a essência e essa inspiração de vida.

Se hoje existe Teatro do Mar, possivelmente, é porque existiu Marcelo Yuka.


Quem na minha fase adolescente, de busca por referenciais, de busca por expressão, de explosão de energia vital, me possibilitou ter contato e saber que "todo camburão tem um pouco de navio negreiro", "mostrando a mentalidade de quem se sente autoridade nesse tribunal de rua", "Eu ia explodir, mas eles não vão ver os meus pedaços por ai". O que sobrou do céu!" Dentre tanto, e tantas letras e palavras e poesia e música e arte e humanidade. E por tantas outras influências que não caberia aqui em espaço falar. Quem sabe um dia.


Eu sempre tive um sonho de convidar o Yuka para fazer parte do Teatro do Mar, de convida-lo para musicar uma peça nossa. E eu iria realizar esse sonho, sabendo que ele nunca me diria nada que não fosse concordar e nos ajudar.

Sim, um dos maiores letristas e poetas do Brasil, escrevendo as letras de uma peça de teatro. E quem sabe aonde mais teria a sua mão... Na própria dramaturgia, encenação, etc...

Esse sonho sempre me acompanhou, eu esperava somente o momento certo para convida-lo formalmente....

Enquanto isso eu já me preocupava que as salas de ensaio da Baden Powell não tem banheiro adaptado, se a porta que sai dos elevadores tem o tamanho correto para passagem confortável, etc.


Participamos de um evento a alguns meses, onde apresentamos uma cena artística teatral, em uma praça aberta, com diversos grupos culturais presentes.

Eu, pessoalmente, imprimi, e comecei a me preparar (sem ninguém saber) para apresentar alguns textos do Yuka nesse evento, com o intuito de convida-lo a estar presente, pois tinha comentado com ele sobre esse dia.

Seria uma surpresa, ou agradecimento, um reconhecimento a ele.

Porém, como diretor artístico e diretor geral, não consegui tempo para me preparar corretamente e no nível correto.


Esses sonhos hoje ficam na saudade. Esses sonhos hoje, talvez especificamente alguns, com a sua ida, também se esvaem.


Esse homem que desencarnou hoje, deixando tanta possibilidade nessa terra. Vai fazer, e já faz, uma falta imensa. Tanta coisa ainda por dizer, pra se dizer, pra se fazer.


Encontramos com ele, a alguns meses atrás, eu e os atores do Teatro do Mar, em um evento no meio da rua, um encontro inesperado, e maravilhoso, onde ele reconheceu e valorizou, incentivou, nossa experiência e posição nessa vida. Talvez ali tenha sido nossa despedida, e a mensagem para continuar.


Suas letras desde ontem não saem hora nenhuma da minha mente, do meu inconsciente. Mesmo na praia, no hospital, em casa, editando site, editando vídeo, pensando em avanço acadêmico, brincando com criança, etc.


Marcelo Yuka, obrigado.


Eu queria mais. Desculpa por não termos tido essa condição prática nesse plano dessa vez. Mas muito obrigado por tudo dessa existência.

Daqui continuo me esforçando para continuar o legado.

Daqui sigo em frente, ainda com o espirito.


Obrigado "companheiro".




(E, quando puder, nos ilumine.)




 




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